Sedação e Segurança em Pediatria

medica anestesista

Dra. Inês Mesquita

Médica Especialista em Anestesiologia com diferenciação em Pediatria

Sedação e Segurança em Pediatria

A segurança dos doentes é um princípio fundamental em saúde, reconhecido pela Organização Mundial da Saúde desde 2002.

A segurança está inserida na gestão do risco clínico, que tem como foco “a melhoria da qualidade e segurança dos serviços de saúde, identificando as circunstâncias e oportunidades que expõem os doentes a riscos de dano, agindo para os prevenir ou controlar.”1

A anestesiologia é considerada uma especialidade de elevado risco, já que, pela necessidade das intervenções cirúrgicas ou procedimentos, induz, através da sua prática, estados de consciência alterada, retirando ao doente capacidades como a respiração habitual e as funções normais de outros órgãos, induzindo alterações à fisiologia com potenciais perigos.

sedação consciente
A implementação da segurança passa pela atuação de profissionais diferenciados e treinados.

Para além da insubstituível atuação de profissionais diferenciados e treinados, com recurso a práticas protocolizadas, tecnologia, fármacos e equipamentos avançados, em instalações adequadas. Assim, é possível reduzir o risco da ocorrência de eventos adversos, como complicações ou erros que possam comprometer o estado de saúde dos doentes.

Tratamentos dentários com sedação?

Os procedimentos dentários, podem ser realizados em ambiente de consultório, mediante a utilização de uma sedação, que pode ser ligeira, moderada ou profunda.
bolsa de fármacos

Relativamente aos procedimentos dentários, considerando a sua complexidade, duração e necessidade de colaboração e imobilização do doente, é possível, em ambiente de consultório, levar a cabo uma sedação, que pode ser ligeira, moderada ou profunda.

A sedação, tema refletido noutros textos desta newsroom, é, então, a administração de um ou mais agentes farmacológicos que permite a execução com sucesso de procedimentos diagnósticos ou terapêuticos, com os seguintes objetivos:

– reduzir o medo, a ansiedade, o stress, a dor e o desconforto;

– reduzir o estado de consciência e proporcionar amnésia;

– manter a estabilidade respiratória e cardiovascular;

– limitar o movimento e controlar o comportamento do doente;

– minimizar o trauma psicológico, proporcionando uma vivência positiva.

A abordagem a clínica a crianças e adolescentes é igual?

A abordagem clínica das crianças e adolescentes é realizada por uma equipa multidisciplinar – médicos anestesiologista e dentista, enfermeiro e assistentes dentários – e tem em conta as diferenças relativamente aos adultos: anatomia, fisiologia, estado emocional, cognição e comportamento.

Existe, nesta população, um risco aumentado de complicações relacionadas com o sistema respiratório e induzidas pela sedação, que podem culminar em hipoxia e ameaçar a vida – apneia, hipopneia, obstrução da via aérea, laringo e/ou broncoespasmo e aspiração pulmonar. Deste modo, o ambiente de consultório deve reproduzir, o mais fidedignamente possível, as condições de recursos humanos e físicos existentes nas unidades hospitalares.

sedação na pediatria

Operacionalizando a segurança, a atuação das equipas na sedação em ambiente de consultório dentário desenrola-se em várias fases:

  1. Contato prévio – com os pais ou responsável legal, sob a forma de questionário escrito e/ou telefónico, para recolha de informações – idade, peso, altura, antecedentes patológicos, cirúrgicos, anestésicos, de desenvolvimento, psicológicos e medicação habitual – prestação de informações e esclarecimento de questões sobre a sedação – benefícios, riscos e limitações;
  2. Dia do procedimento:

 – avaliação clínica presencial e confirmação de jejum;

 – obtenção de consentimento informado escrito;

 – disponibilização de ambiente adequado e seguro para pediatria;

 – monitorização das funções respiratória e cardiovascular e cateterização de veia periférica (habitualmente na mão ou flexura do antebraço);

 – administração de fármacos sedativos, ansiolíticos e amnésicos;

 – registos clínicos;

 – despertar e cuidados pós-sedação – recuperação, verificação de critérios de alta e indicações para o domicílio.

Todas as fases são personalizadas, incluindo a escolha da técnica de sedação, indo de encontro às necessidades individuais de cada criança ou adolescente.

As crianças podem estar acompanhadas?

A presença do acompanhante do doente é fundamental na abordagem em segurança.
criança com medo e acompanhada

Sendo o acompanhante quem melhor conhece a criança ou adolescente, ajuda a equipa clínica a interpretar as suas emoções, reações e comportamentos, além de proporcionarem conforto e apoio emocional, aumentando a confiança e cooperação antes e após a sedação.

Considerando o exposto, a equipa SedaCare tem como objetivo proporcionar às crianças e adolescentes uma vivência o mais confortável possível do momento de reabilitação oral, através de práticas baseadas na segurança clínica, fundamental para limitar os riscos dos procedimentos realizados.

Referências:

  • World Health Organization, Topic 6 – Understanding and managing clinical risk, Patient Safety Curriculum Guide, [Internet]. Available from: https://cdn.who.int/media/docs/default-source/patient-safety/curriculum-guide/resources/ps-curr-teach-guides/topic-06_understanding-and-managing-clinical-risk_teaching-slides.pdf?sfvrsn=f4469_9

  • Zielinska M, Bartkowska‐Sniatkowska A, Becke K, et al. Safe pediatric procedural sedation and analgesia by anesthesiologists for elective procedures: A clinical practice statement from the European Society for Paediatric Anaesthesiology. Pediatric Anesthesia. 2019;29:583–590.

  • South African Society of Anaesthesiologists. SASA paediatric guidelines for the safe use of procedural sedation and analgesia for diagnostic and therapeutic procedures in children: 2021–2026 [Internet]. 2022. Available from: https://journals.co.za/doi/epdf/10.36303/SAJAA.2021.27.4.S2.2635

  • Green SM, Irwin MG, Mason KP, on behalf of the International Committee for the Advancement of Procedural Sedation. Procedural sedation: providing the missing definition. Anaesthesia. 2021;76(5):598-601. https://doi.org/10.1111/anae.15213.

  • Jang YE, Kim JT. Effective and safe pediatric sedation. Anesth Pain Med 2024;19(Suppl 1):S36-S48 https://doi.org/10.17085/apm.24046

  • Coté CJ, Wilson S. Guidelines for monitoring and management of pediatric patients before, during, and after sedation for diagnostic and therapeutic procedures. Pediatr Dent. (2019) 41:259–60.

  • Gao F, Wu Y. Procedural sedation in pediatric dentistry: a narrative review. Med. (2023)10:1186823. doi: 10.3389/fmed.2023.1186823

  • Abrunhosa M, Alves A, Alves C, Amadeu M, et al. Manual de Anestesiologia. 1ª ed. Machado H, coordenador. Lidel; 2013.