A segurança está inserida na gestão do risco clínico, que tem como foco “a melhoria da qualidade e segurança dos serviços de saúde, identificando as circunstâncias e oportunidades que expõem os doentes a riscos de dano, agindo para os prevenir ou controlar.”1
A anestesiologia é considerada uma especialidade de elevado risco, já que, pela necessidade das intervenções cirúrgicas ou procedimentos, induz, através da sua prática, estados de consciência alterada, retirando ao doente capacidades como a respiração habitual e as funções normais de outros órgãos, induzindo alterações à fisiologia com potenciais perigos.
Para além da insubstituível atuação de profissionais diferenciados e treinados, com recurso a práticas protocolizadas, tecnologia, fármacos e equipamentos avançados, em instalações adequadas. Assim, é possível reduzir o risco da ocorrência de eventos adversos, como complicações ou erros que possam comprometer o estado de saúde dos doentes.
Relativamente aos procedimentos dentários, considerando a sua complexidade, duração e necessidade de colaboração e imobilização do doente, é possível, em ambiente de consultório, levar a cabo uma sedação, que pode ser ligeira, moderada ou profunda.
A sedação, tema refletido noutros textos desta newsroom, é, então, a administração de um ou mais agentes farmacológicos que permite a execução com sucesso de procedimentos diagnósticos ou terapêuticos, com os seguintes objetivos:
– reduzir o medo, a ansiedade, o stress, a dor e o desconforto;
– reduzir o estado de consciência e proporcionar amnésia;
– manter a estabilidade respiratória e cardiovascular;
– limitar o movimento e controlar o comportamento do doente;
– minimizar o trauma psicológico, proporcionando uma vivência positiva.
Existe, nesta população, um risco aumentado de complicações relacionadas com o sistema respiratório e induzidas pela sedação, que podem culminar em hipoxia e ameaçar a vida – apneia, hipopneia, obstrução da via aérea, laringo e/ou broncoespasmo e aspiração pulmonar. Deste modo, o ambiente de consultório deve reproduzir, o mais fidedignamente possível, as condições de recursos humanos e físicos existentes nas unidades hospitalares.
Operacionalizando a segurança, a atuação das equipas na sedação em ambiente de consultório dentário desenrola-se em várias fases:
– avaliação clínica presencial e confirmação de jejum;
– obtenção de consentimento informado escrito;
– disponibilização de ambiente adequado e seguro para pediatria;
– monitorização das funções respiratória e cardiovascular e cateterização de veia periférica (habitualmente na mão ou flexura do antebraço);
– administração de fármacos sedativos, ansiolíticos e amnésicos;
– registos clínicos;
– despertar e cuidados pós-sedação – recuperação, verificação de critérios de alta e indicações para o domicílio.
Todas as fases são personalizadas, incluindo a escolha da técnica de sedação, indo de encontro às necessidades individuais de cada criança ou adolescente.
Sendo o acompanhante quem melhor conhece a criança ou adolescente, ajuda a equipa clínica a interpretar as suas emoções, reações e comportamentos, além de proporcionarem conforto e apoio emocional, aumentando a confiança e cooperação antes e após a sedação.
Considerando o exposto, a equipa SedaCare tem como objetivo proporcionar às crianças e adolescentes uma vivência o mais confortável possível do momento de reabilitação oral, através de práticas baseadas na segurança clínica, fundamental para limitar os riscos dos procedimentos realizados.
Referências:
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Zielinska M, Bartkowska‐Sniatkowska A, Becke K, et al. Safe pediatric procedural sedation and analgesia by anesthesiologists for elective procedures: A clinical practice statement from the European Society for Paediatric Anaesthesiology. Pediatric Anesthesia. 2019;29:583–590.
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Gao F, Wu Y. Procedural sedation in pediatric dentistry: a narrative review. Med. (2023)10:1186823. doi: 10.3389/fmed.2023.1186823
Abrunhosa M, Alves A, Alves C, Amadeu M, et al. Manual de Anestesiologia. 1ª ed. Machado H, coordenador. Lidel; 2013.